A Lua de alguém


Há dias em que acordas de manhã e pensas: porque é que certas pessoas encontram o seu amor correspondido, de uma maneira aparentemente tão simples e fácil, e depois existem aquelas que são o pólo completamente oposto a estas, tendo o dom de se apaixonar sempre pelas pessoas erradas ou por pessoas que já encontraram alguém que as completasse. Imagina que passas uma noite de Queima, uma simples noite da tua vida, a olhar para alguém que tu sabes já ter a sua história de amor completa. No entanto, não consegues parar de olhar para ela, porque cada vez que a olhas ela mexe contigo, tira-te pequenos pedaços de ti a cada olhar cruzado, a cada momento imaginado. Assim perdes parte da tua noite a pensares em "ses": e se ela não estivesse mais com o outro, e se ela pensasse em ti da mesma forma que tu pensas nela, e se ela gostasse de ti. Mais uma vez, perdes mais um pedaço da tua noite, da tua vida, a pensares nela. Imagina agora que no final dessa mesma noite dizem-te que esse alguém já acabou a sua história com o outro. Engraçado, não é? A partir desse momento começas a imaginar todo o tipo de filmes possíveis e imaginários que alguma vez te passaram ou passarão pela tua cabeça. E aí entram as férias de Verão. Um mês só para ti, para esqueceres tudo isto, para te consciencializares que nenhum daqueles filmes se irá realizar. Então acabas por esquecer tudo, ou assim pensas tu. Mas, ao vê-la no inicio do ano seguinte percebes que todo o teu trabalho a esquecê-la cai por terra. Sendo assim arranjas outras maneiras de a esquecer uma vez mais. Sonhas com esta e com aquela, e estas tornam-se paixões tão grandes quanto aquela que tentaste esquecer. E agora já não se trata de esqueceres uma e partires para outra, trata-se de fazeres uma escolha, a tua própria escolha. Escolhes nenhuma delas, manténs-te livre para qualquer uma e para outras que venham a seguir. Mas, caso aqueles olhos azuis/verdes/castanhos, sabes lá tu a cor dos olhos dela a esta altura, se te disserem que são vermelhos também dizes que são dessa cor, não interessa. Caso ela olhe para ti, com os seus olhos pintados com as cores do arco-íris, de maneira diferente, como que a convidarem-te para falar contigo em privado, nem por um momento hesites em ir com ela. Pois tu estás tão perdido por ela a esta altura, que consegues sentir o odor do seu perfume, mesmo antes de a começares a conseguir ver, os passos das suas botas já se tornaram característicos para ti, até os seus casacos se tornaram inconfundíveis. Mas então e se nada dos teus sonhos, não passarem de sonhos mesmo? Vais continuar a passar por ela e limitares-te a dizer "olá, bom dia" ou vais passar por ela e fazer alguma coisa para tornar os teus sonhos realidade? E se ela não sentir o mesmo por ti que tu por ela? Como a vais encarar todos os dias a partir desse momento? Sim, porque todos os dias vais passar por ela, não fossem os dois estar na mesma universidade. Como a encaravas? Passavas a ser mais um dos seus conhecidos como antes? Enfim, com tudo isto que escrevi até agora lembrei-me porque estou na situação que estou, sozinho. Penso demasiado em coisas que são demasiado simples. Agir e esperar pelas consequências, era isso que eu devia estar a fazer. Mas nada me dá ânimo para fazer coisa alguma. É como se tivesse adormecido há muito tempo atrás, e nunca conseguisse acordar outra vez. Talvez porque cada vez que penso em alguém, há sempre outro que vem e me rouba os sonhos. Começo a pensar que a culpa de ficar sem sonhos é minha e não daquele que mos rouba. Pensando bem, é inteiramente verdade. A minha incapacidade de fazer alguma coisa a cada dia cresce mais, e não consigo alterar esta tendência por mais que tente. Imaginem que estão num túnel e não conseguem ver nada, é tudo escuro como o breu. Mas por alguma razão, algo vos diz que têm de andar em frente. E assim, vocês o fazem. A certa altura, de tanto andar em frente à procura de uma luz, deixam de sentir os vosso pés, e o cansaço a cada passo que dão vai sendo cada vez maior. De tal modo que se torna insuportável andar em frente, mas mesmo assim vocês continuam porque querem encontrar aquela luz que vai compensar todo o esforço que tiveram até lá. No entanto, essa luz não aparece e vocês ficam cada vez mais exausto, de tal modo que estão à beira de desistir de a encontrar. Pois bem, é assim que eu me sinto. Sinto que por mais que procure nunca irei conseguir encontrar aquela luz, porque no final do meu túnel não haverá luz, apenas mais escuridão. Mas, tudo isto é passageiro. Hoje encontro-me parado no túnel, talvez pare de vez ou talvez esteja só a ganhar fôlego, e amanhã corro ainda mais para tentar encontrá-la. Mas, cada vez que me lembro que tenho sonhos, lembro-me que tenho de parar de acreditar neles. Quem me dera parar de sonhar, pelo menos assim não haveria ninguém que mos roubasse. Mas, ainda bem que sonho, porque assim tenho sempre outros sonhos e não fico apegado aqueles que me roubaram. A vida não espera por ninguém, há que continuar em frente. Há que sonhar mais, cada vez mais. Temos que nos libertar da realidade de modo a torná-la melhor, para isso servem os sonhos. Lembra-te que cada vez que te roubam um sonho, há sempre outros sonhos que podes sonhar e tornar realidade. Hoje decidi parar por aqui, amanhã é outro dia.


Um até breve